De acordo com o ChatGPT, a quantidade de energia necessária para proteger o Bitcoin é preocupante porque sua rede Proof of Work (Prova de Trabalho) descentralizada consome mais energia do que outros sistemas de pagamento. Como de costume, a AI apresenta pouca ou nenhuma nuance e faz uma crítica bastante genérica. No entanto, o fato de que nos é dada uma perspectiva comparativa (formulada como “consome mais energia do que a maioria dos outros sistemas de pagamento”) é bastante útil, e nós podemos utilizá-la na desconstrução do FUD (sigla em inglês para medo, incerteza e dúvida).
Antes de mergulharmos na refutação do FUD em si, é importante distinguir entre dois tipos de abordagens mainstream em relação ao uso de eletricidade do Bitcoin:
– o primeiro é inerentemente niilista e sugere que o Bitcoin é inútil ou não deveria existir junto com os serviços bancários. Esse tipo de lógica leva à conclusão de que o Bitcoin é um desperdício, bobo e prejudicial demais ao meio ambiente para receber qualquer tipo de crédito. Esse é o tipo de ataque mais comum, mesmo quando é apresentado indiretamente sob o disfarce de “Bitcoin não tem utilidade” e “Bitcoin não pode ser dinheiro”;
– o segundo tipo sugere que o Bitcoin deveria mudar para Proof of Stake (Prova de Participação). Esse é um argumento com mais nuance, tecnicidade e também mais destrutivo que é, na maioria das vezes, utilizado por proponentes de altcoins que buscam minar a descentralização do Bitcoin e possivelmente obter algum grau de controle sobre a rede. O Ethereum é frequentemente apresentado como o exemplo de uma transição para Proof of Stake que o Bitcoin deveria seguir, enquanto executivos da Ripple ativamente financiam campanhas anti-Bitcoin para prejudicar a reputação do sistema. Alguns desses argumentos soam razoáveis para o cidadão comum, mas é importante explicar por que o Proof of Stake é incapaz de fornecer segurança na ausência de um grau preocupante de centralização.
Ambos os argumentos são destrutivos no sentido de que visam corroer as propriedades fundamentais do Bitcoin. O primeiro beneficia banqueiros, enquanto o segundo serve aos interesses de proponentes de altcoins cujas redes são incapazes de competir com o Bitcoin no livre mercado… então, consequentemente, eles escolhem jogar o jogo político.
Agora, forneceremos um pouco de contexto para explicar como o Bitcoin funciona e por que ele precisa consumir tanta energia para funcionar. Porque sim, o Bitcoin é uma forma de dinheiro que utiliza grandes quantidades de eletricidade para permanecer seguro. O sistema está sujeito às leis da física, pois as transações são termodinamicamente protegidas contra mudanças futuras. Novas transações de usuários ao redor do mundo são adicionadas a uma pool de memória (mempool) que é armazenada pelos nodes Bitcoin, enquanto mineradores participam de uma competição global para encontrar um número raro (conhecido como “hash”). Quando um minerador ou grupo de mineradores descobre esse número, uma mensagem é enviada para a rede inteira, e um bloco contendo alguns milhares de transações da mempool é marcado com data e hora (timestamp) e adicionado ao livro-razão público.
Apenas um minerador ou grupo de mineradores pode receber a recompensa. O Bitcoin é um sistema “o vencedor leva tudo” que incentiva a competição e não favorece a ineficiência. Os mineradores precisam encontrar uma fonte de energia barata e confiável, utilizar hardware que produz a maior quantidade de hashes por quilowatt consumido e se adaptar constantemente a um mercado global e dinâmico que nunca para de inovar e, às vezes, é regulado por governos locais ou nacionais. Na maioria dos casos, a melhor fonte de energia para mineradores de Bitcoin é também a mais ecológica – a produção de energia renovável é um setor em expansão, e sempre há alguns quilowatts em excesso que não podem ser armazenados e, portanto, são utilizados para contribuir com a segurança do Bitcoin em troca de recompensas de mineração.
A mineração Proof of Work do Bitcoin é o elemento que conecta a rede de dinheiro digital ao mundo real e cria um custo para a produção e transferência de fundos. Ela fornece finalidade termodinâmica para cada operação e garante que o histórico não pode ser alterado sem custos vultuosos e evidência permanente. Inicialmente, o Proof of Work era um mecanismo para impedir ataques de negação de serviço (conforme descrito por Moni Naor e Cynthia Dwork em 1993) e impedir spam de e-mail (conforme implementado por Adam Back no Hashcash). Basicamente, operações dentro de um sistema Proof of Work exigem ou um pagamento monetário, ou um custo computacional: se você quiser spammar uma lista de e-mail, você deve utilizar o processador do seu computador para executar a quantidade correta de ciclos de hash.
No Bitcoin, o Proof of Work também funciona como uma proteção contra a censura: se todas as transações pagam taxas e exigem que um minerador as inclua num bloco, então sempre haverá alguém que aceitará as taxas para cobrir os custos de eletricidade. Numa escala global, esse mecanismo contorna a censura política. Se certos usuários forem sancionados num determinado número de países, é impossível que a rede inteira colabore com a censura, pois um minerador de uma jurisdição livre não terá nenhum problema moral ou legal com o recebimento das taxas – portanto, incluirá aquela transação num bloco.
Outra vantagem da mineração Proof of Work do Bitcoin é a chamada natureza não permissionada. Qualquer um pode comprar um computador especializado em mineração. Obviamente, nem todo mundo tem o privilégio de ter custos de eletricidade competitivos e uma jurisdição favorável. Mas não há necessidade de registro, e os mineradores também não são obrigados a revelar sua identidade para o mundo – tudo o que eles precisam é de sorte ou muito poder computacional para descobrir o hash raro antes do resto do mundo.
As descrições apresentadas acima devem alimentar a imaginação de qualquer defensor dos direitos humanos – e devem deixar claro por que governos e grandes empresas não gostam do Bitcoin e frequentemente o criticam por ser um desperdício. As pessoas que vivem em regimes autoritários também precisam de um jeito de se protegerem.
Parece complicado? É porque o design descentralizado faz uso de verificação constante. Nesse sistema monetário, todos os participantes verificam a honestidade uns dos outros e contam com a matemática e código computacional para determinar o que está correto e o que é invalidado. A mineração do Bitcoin é parte do que garante a segurança de uma rede descentralizada que não possui nenhuma entidade central para fazer as regras. A mineração do Bitcoin é a tentativa mais bem-sucedida de resolver o problema do gasto duplo – ela garante que, na ausência de um servidor que atue como um oráculo para todos os outros, a mesma quantia de dinheiro não seja gasta duas vezes pelo mesmo participante. É como ir à loja e tentar pagar por uma barra de chocolate de 10 reais oferecendo a mesma nota de 5 reais duas vezes, antes que o funcionário possa colocá-la na caixa registradora. Contanto que haja verificadores observando que você está tentando trapacear, isso não tem como dar certo.
Todos estão sujeitos às mesmas regras de consenso, então tentativas de trapacear custam caro: por exemplo, se um minerador finge ter encontrado o hash correto e os nodes que garantem o cumprimento das regras da rede discordam, então o trabalho do minerador não se torna parte do livro-razão público. Essa rejeição vem com custos financeiros, já que o minerador que tentou trapacear fez uso de computação intensiva em eletricidade. Ou ele se adequa ao resto, ou tenta convencer uma maioria de 51% dos outros mineradores a colaborar com a trapaça.
No entanto, pelo menos até este momento na história do Bitcoin, sempre foi mais lucrativo jogar de acordo com as regras de consenso do que tentar atacar a rede. Mineradores honestos recebem recompensas que cobrem seus custos de energia e outras despesas. Mineradores desonestos não têm sido capazes de formar uma maioria perigosa por conta da distribuição geográfica da rede Bitcoin e da participação de um grande número de usuários que acreditam nesse projeto de dinheiro paralelo e querem vê-lo dar certo. Parte do mérito está na forma como os incentivos foram projetados para incentivar a honestidade, mas não devemos nunca desconsiderar a ação humana. É a qualidade dos usuários do Bitcoin que o trouxe a este ponto.
Os bancos não possuem esse problema, pois são regidos pela política humana. Suas liquidações também são muito mais lentas do que blocos de Bitcoin, eles apenas funcionam de segunda a sexta dentro de um período de 8 horas, e todas as transações fora do horário de funcionamento são armazenadas numa versão privada da “mempool” que é liquidada durante o horário comercial. Ao contrário do Bitcoin, os bancos podem reverter transações e congelar fundos com muita facilidade. É essa dimensão da censura que chega ao extremo até mesmo nos países mais democráticos, detentores de constituições liberais que teoricamente deveriam proteger a liberdade de expressão – alguns indivíduos tiveram suas contas congeladas por conta de manifestações políticas, enquanto um bando de caminhoneiros canadenses teve que escolher entre ter acesso financeiro ou continuar um protesto.
Um mundo mais justo precisa do Bitcoin como um instrumento financeiro que permita que as pessoas possam optar por não fazer parte de um sistema de corrupção e abuso. Enquanto o Bitcoin existir de forma descentralizada através do Proof of Work, será possível que indivíduos invistam capital para minerá-lo e, portanto, obter moedas sem precisar passar por procedimentos regulados pelo Estado. Com as moedas obtidas pela mineração ou por trocas diretas privadas, pessoas de todos os cantos do mundo podem votar com os pés: deixarão qualquer território ou jurisdição que insulte sua dignidade, viole suas liberdades ou fira seus direitos fundamentais para se estabelecerem em lugares mais amigáveis. Você pode encontrar muitos desses exemplos entre os venezuelanos – e entre os convidados do podcast Bitcoin Takeover, você pode ouvir Alessandro Ceccere falar sobre escapar da tirania através do Bitcoin (temporada 5, episódio 5).
Além disso, as pessoas podem usar o Bitcoin para criar mercados negros paralelos que efetivamente contornam regulações abusivas. Fazendeiros não podem mais criar gado e são pressionados a criar insetos? Não é como se a demanda por leite, laticínios e carne bovina fosse desaparecer porque um bando de políticos decidiu impor uma redução na produção. Assim, as pessoas poderão comprar os alimentos de que gostam diretamente dos fazendeiros, de uma forma direta que é capaz de escapar completamente do controle do Grande Irmão.
Também há muito a ser dito sobre o Bitcoin na era de transações sem dinheiro em espécie e CBDCs (moedas digitais dos bancos centrais). Considere o seguinte: os bancos centrais terão controle sem precedentes sobre cada transação monetária, utilizarão um grau preocupante de vigilância contra todos e serão capazes de manipular a oferta de moeda/inflação com o apertar de um botão. Por design, CBDCs são marcadas por muita censura, discriminação e abuso político. Nenhuma instituição financeira ou serviço de pagamentos regulamentado é capaz de fornecer transferências de dinheiro incensuráveis e mais ou menos privadas como o Bitcoin.
O Bitcoin é uma escapatória de um futuro sombrio e autoritário, onde as inovações tecnológicas são utilizadas para vigiar e exercer controle sobre as massas de forma mais eficiente do que o comunismo e o fascismo no século XX. Portanto, é claro que os agentes governamentais estão fazendo o possível para desencorajar o seu uso. Eles já tentam manter cada porta de entrada e de saída sob controle, ao mesmo tempo em que vigiam cada transação para tentar adivinhar aonde o dinheiro está indo. Mas o Bitcoin é o pior pesadelo de todo autoritário: uma rede global de computadores que funciona de acordo com regras de consenso que nenhum parlamento, presidente, rei ou aliança de políticos poderosos é capaz de mudar. As pessoas não podem ser impedidas de enviar e receber BTC em qualquer lugar do mundo, então a censura política de repente se torna menos eficiente.
Ao mesmo tempo, políticos corruptos provavelmente também mantém parte de suas riquezas em Bitcoin – e é por isso que ele provavelmente não será banido de uma forma que não possa ser contornada tecnicamente. Eles podem bloquear sites relacionados ao Bitcoin, podem restringir e desencorajar a utilização de portas de entrada, mas eles não proibirão o Tor, VPNs e outros serviços de ofuscação de IP que são capazes de driblar essas restrições. Além disso, os governos nunca derrubarão a internet, pois ela fornece a eles muitos dados valiosos e é útil para propaganda. Eles podem utilizar a rede para exercer vigilância sobre os cidadãos e também controlar seus pensamentos através de notícias e entretenimento.
Com base nos argumentos apresentados, podemos concordar que o Bitcoin certamente é útil para muitas pessoas em todas as esferas da vida. Portanto, a energia elétrica que mantém o sistema seguro claramente não é desperdiçada. Ademais, o fato de um recurso do mundo real ser consumido para produzir BTC também é parte do motivo pelo qual há tanta demanda global pelo dinheiro mágico da internet. O preço do ouro leva em conta os custos de extração, transporte e segurança. O preço da comida inclui os custos de produção, transporte e armazenamento. O Bitcoin é valioso porque indivíduos e empresas utilizam eletricidade para proteger suas poupanças e receber recompensas de mineração.
Ao contrário do dinheiro fiduciário, que é impresso do nada e depende de confiança em governos e bancos centrais (acompanhado por um certo grau de imposição militar), o bitcoin é um dinheiro honesto que todos compram por um preço que leva em conta o custo de produção em hardware e eletricidade, a oferta e a demanda. Ao contrário do dinheiro do governo, você sempre sabe quantos bitcoins existem em circulação. Então, quando você determina o preço, as únicas variáveis reais são os custos de produção e a demanda. No momento da redação deste artigo, o preço de um bitcoin era de aproximadamente 30.000 dólares – mas quando a moeda fiduciária for substituída, um bitcoin pode ser precificado em horas de trabalho, recursos naturais escassos, pedaços de terra, moedas de ouro e outros produtos. Tempo, energia e recursos são finitos – por que o dinheiro que os compra também não deveria estar sujeito às leis da física, em vez da política?
Ter o consumo de energia como um ponto de referência para avaliação é uma característica que funciona a favor do Bitcoin. Isso torna a rede segura e dá mais legitimidade à moeda. O contra-argumento comum é que o Bitcoin é um código de computador que qualquer um pode clonar para lançar uma rede idêntica – entretanto, o mercado não atribuirá o mesmo valor à nova rede ao longo do tempo e, portanto, o uso de eletricidade converge para a rede monetária mais estável e constantemente demandada.
Tais ataques de ambiguidade contra a supremacia do Bitcoin já ocorreram em 2017 e 2018, através de diversos forks (bifurcações): Bitcoin Cash, Bitcoin Gold e Bitcoin Satoshi Vision são três das mais famosas tentativas que claramente fracassaram. Embora ainda existam hoje, eles não conseguiram convencer o mercado de que são as versões verdadeiras e mais valiosas do Bitcoin. Consequentemente, eles constantemente perderam participação de mercado em relação ao Bitcoin original, ao ponto de o BCH ter, hoje, apenas 0,38% da taxa de hash do verdadeiro Bitcoin.
Nem toda mineração de criptomoeda nasce igual. Os mercados reconhecem algo que tem valor e, num horizonte temporal suficientemente longo, fica claro o que realmente é valioso e o que se revela um fracasso ou uma farsa. À altura da escrita deste artigo, em 2023, o Bitcoin tem sido o rei indiscutível há 14 anos. Clones surgiram e desapareceram, mas apenas uma forma de dinheiro da internet consistentemente ajudou pessoas ao redor do mundo a transacionar e poupar todos os dias. Portanto, há claramente muito valor nessa rede, e ela merece usar a energia que consome para ajudar indivíduos ao redor do mundo a adquirirem mais liberdade contra a tirania extrema.
É aqui que alguns argumentariam que uma mudança do Proof of Work (o mecanismo que utiliza as leis da termodinâmica para converter eletricidade em dinheiro digital) para Proof of Stake (o modelo escolhido pelo Ethereum para garantir a segurança de sua rede, onde moedas recém-criadas são dadas a usuários que travam seus tokens ETH num contrato e mantém um computador validador online) poderia reduzir o consumo de energia do Bitcoin em até 99%. Esse argumento apenas é válido em relação ao consumo de energia, mas desconsidera completamente o significado de descentralização e a ideia de um dinheiro justo.
No Bitcoin, qualquer um pode investir recursos externos (dinheiro fiduciário, ouro) para comprar equipamentos de mineração e pagar faturas de eletricidade a fim de adquirir tokens BTC sem ter contato com nenhuma das moedas já existentes no mercado. Você pode proteger a rede e ganhar recompensas, evitando assim o enriquecimento dos primeiros usuários através de uma interferência no preço com uma potencial compra a mercado.
Num sistema Proof of Stake, você não tem escolha senão comprar suas moedas de pessoas que as criaram do nada, sem nenhum tipo de gasto energético. Não apenas isso, mas o Proof of Stake funciona como uma oligarquia: as moedas recém-criadas são distribuídas para aqueles que travaram as maiores quantias. Os ricos sempre ficam mais ricos, enquanto os pobres são condenados a permanecerem pobres. Obviamente, há uma falta de dinamismo: usuários antigos podem se dar ao luxo de sempre travar suas moedas e gastar apenas as recompensas que ganham. O sistema era injusto desde o início, mas a forma como os mais pobres são obrigados a comprar as moedas das elites para efetivamente preservar o status dos seus mestres é desprezível e inaceitável para o progresso humano.
Pelo menos o Proof of Work é dinâmico, conforme provado pelas mudanças significativas na dominância das pools de mineração:
– em 2011, a Deepbit se tornou a primeira pool de mineração a atingir mais de 50% da taxa de hash, e esse fato causou algum pânico entre os usuários do fórum Bitcoin Talk;
– em 2013, a Deepbit já havia acabado, mas a BTC Guild era a novata no pedaço, e usuários estavam expressando preocupações sobre sua dominância. Em janeiro de 2015, a pool foi encerrada devido a pressões regulatórias;
– em 2014, o co-fundador da Bitcoin Magazine, Vitalik Buterin (sim, o rapaz do Ethereum) escreveu um artigo para reclamar da GHash.io – uma pool que estava próxima de atingir 50% da taxa de hash do Bitcoin. Em menos de 2 anos, a GHash saiu do mercado de mineração;
– em 2017, os bitcoiners estavam preocupados com a vantagem injusta que a Bitmain tinha por ser uma fabricante de máquinas de mineração que também geria uma pool, a Antpool. Em abril de 2023, a Antpool apenas possuía 23% da taxa de hash do Bitcoin;
– em 2023, a comunidade torce o nariz para a Foundry USA – uma pool que tem ficado muito grande depois que uma enorme parte da indústria saiu da China. Atualmente, essa pool relativamente nova fornece cerca de 33% da taxa de hash do Bitcoin. Entretanto, a Foundry é frágil por dois fatores: as preocupações regulatórias excessivas nos Estados Unidos da América, bem como a dinâmica de um livre mercado competitivo e global que busca pelas fontes de energia mais abundantes e baratas. Um declínio nunca está fora de cogitação e sempre existe um concorrente capaz de dominar a tarefa de oferecer segurança termodinâmica ao Bitcoin;
Por outro lado, ainda não está claro se o Proof of Stake é capaz de funcionar sem graus preocupantes de centralização – quando o Ethereum mudou para esse protocolo de consenso, eles aplicaram uma regra que não permite que os stakers (usuários que protegem a rede travando suas moedas) saquem seu dinheiro do contrato. É uma decisão temporária para evitar grandes problemas de segurança… pelo menos é o que alegam.
Atualização do tradutor: eles realmente permitiram os saques. Pelo menos isso…
O sistema deles, mesmo que consuma muito pouca energia elétrica, é injusto e muito pior que o sistema bancário que já temos. O Proof of Stake não pode e não funcionará em coexistência com uma rede monetária global e livre que permite que qualquer um participe com chances iguais. É por isso que os inimigos do Bitcoin insistem que a mudança para Proof of Stake deveria acontecer – eles não querem que o preço do bitcoin tenha um equivalente no mundo real na forma de energia, não querem que o sistema ofereça a todos chances iguais de competir e não querem que a descentralização dure. Eles preferem promover algo que sabem como controlar.
Outro tipo de crítica que eles poderiam apresentar (oficialmente ou através do ChatGPT) seria que o Bitcoin não é dinheiro, pois apenas governos poderiam tomar decisões nesses assuntos. E, novamente, existem duas formas diferentes de refutar esse FUD:
– a forma mais fácil é apontar para El Salvador, um país que reconhece o Bitcoin como moeda oficial;
– a forma mais elaborada é explicar que é o mercado quem decide o que é dinheiro, não os governos. O mercado é dinâmico e inovador, enquanto os governos são reativos e conservadores. Foi o mercado quem escolheu o ouro e a prata para serem negociados através de fronteiras nacionais, mas foram os governos que decidiram se enfiar no meio sob o pretexto de simplificar a verificação de moedas. Também foi o mercado que utilizou certificados de crédito e propriedade antes que os governos decidissem adotar e centralizar esse tipo de contabilidade.
No passado, os governos eram capazes de banir e confiscar certos tipos de moeda que considerassem perigosos para a elite. Hoje, os mesmos governos são incapazes de impedir que o Bitcoin seja utilizado para pagar por bens e serviços no mercado. Portanto, a única propriedade do dinheiro tradicional que realmente falta ao Bitcoin é a capacidade de ser confiscado pelo governo – e, se definirmos dinheiro através dessa visão, então podemos concordar que o Bitcoin é definitivamente outra coisa.
Tenhamos uma discussão aprofundada sobre o consumo energético do Bitcoin agora. Nós já explicamos que o sistema Proof of Work possui valor e produz algo de útil para a humanidade através do livre mercado, então coloquemos o consumo de energia numa perspectiva comparativa. Afinal de contas, existem muitos usos de eletricidade que são “desperdícios” e nem por isso são desaprovados pelos governos, embora consumam muitos quilowatts – desde luzes de Natal até secadores de roupas e telas de televisão deixadas ligadas enquanto ninguém assiste.
As pessoas que secam suas roupas com máquinas próprias para isso, esquentam seus lares com aquecedores e dormem com seus computadores ou televisores ligados não são considerados terroristas ecológicos. Governos que consomem muita eletricidade com operações militares e diversos experimentos nunca prestam contas disso. Big Techs que rodam servidores enormes possuem passe livre, pois têm dinheiro suficiente para fazer lobby junto aos governos e para fazer com que reguladores e ativistas ambientais façam vista grossa. Mas os mineradores de Bitcoin são submetidos a padrões injustificavelmente altos e são malvistos por protegerem uma rede monetária que os governos são incapazes de controlar.
Os alarmistas dizem que a mineração de Bitcoin é uma atividade que causa danos ao planeta, emite muito carbono, ferve os oceanos e não passa de um desperdício. Por outro lado, os defensores da mineração a descrevem como uma atividade cada vez mais sustentável que converge em direção às fontes mais baratas de energia – que, curiosamente, são as renováveis. Mas a verdade está sempre em algum lugar no meio: na realidade, qualquer um pode comprar equipamentos de mineração e usá-los em casa, como parte de uma fazenda de mineração dentro de uma instalação dedicada ou em qualquer outro lugar onde a eletricidade seja barata.
Também há algo a ser dito sobre o livre mercado no setor de energia e como os preços mudam ao longo do tempo para se ajustarem à dinâmica de oferta e demanda. Por exemplo, a eletricidade produzida através da queima de carvão atualmente é cara, extremamente poluente e indesejável em comparação com a energia nuclear, solar, eólica e hidrelétrica. Entretanto, se a demanda por carvão atingir níveis tão baixos a ponto de tornar sua compra e sua queima muito baratas, ele provavelmente será utilizado por atores competitivos no mercado. Não apenas na mineração de Bitcoin, mas em todos os outros setores dependentes de energia. Afinal, até o governo alemão aumentou a produção de energia por meio da queima de carvão em 2022 para lidar com a crise energética… o que é bastante estranho para um país governado por uma coalizão de esquerda da qual o Partido Verde é membro.
Na rede Bitcoin, os mineradores são remunerados com 50% menos moedas por bloco a cada 210.000 blocos descobertos. Esse ciclo, conhecido como “halving”, dura cerca de 4 anos e contribui enormemente para a profissionalização da indústria de mineração como um todo. Os participantes ineficientes, que pagam altos preços pela energia utilizada e não produzem poder de processamento suficiente para se manterem competitivos, acabam saindo do mercado.
Ao mesmo tempo, a taxa de hash da mineração não permanece constante ao longo do tempo e não apenas cresce. A partir do momento em que os mineradores consigam sua energia a partir de usinas onde ela seja produzida em excesso, não haverá muitos outros lugares aonde ir. Eles podem utilizar energia geotérmica, podem substituir a queima de gás na atmosfera (flaring) por uma queima controlada dentro de geradores de energia, o que reduz a emissão de metano ao convertê-lo com maior eficiência em CO2, que é muito menos poluente, e podem até mesmo utilizar a energia gerada por estrume de vaca fermentado (sim, isso já aconteceu). Então, o que acontece se a taxa de hash da mineração não puder mais aumentar e começar a diminuir inesperadamente devido a problemas de instabilidade em algumas partes do mundo?
Afinal, a mineração Proof of Work do Bitcoin foi projetada para permitir o dinamismo e permite que qualquer pessoa no mundo participe ou saia da atividade a qualquer momento. Como as quedas na taxa de hash serão mitigadas? Bem, a cada 2016 blocos (cerca de 2 semanas), a dificuldade de mineração se reajusta a fim de manter o intervalo entre blocos em 10 minutos – então a dificuldade aumenta após períodos de alta atividade (quando mais mineradores descobrem blocos muito mais rapidamente) e diminui após períodos de baixa atividade (quando os mineradores penam para descobrir blocos).
Isso também significa que, mesmo que mais energia seja investida no Bitcoin em determinado momento, as recompensas de mineração permanecem as mesmas e têm que ser divididas entre o número maior de participantes que agora fazem parte da rede, o que é outra escolha de design brilhante – se mais recursos forem investidos na busca e exploração de minas de ouro ou poços de petróleo, a oferta desses recursos no mercado se tornará mais abundante e seus preços cairão. Mas o Bitcoin possui um sistema de inflação programada que libera 50 moedas por bloco no primeiro período de 210.000 blocos, 25 moedas por bloco no segundo período de 210.000 blocos e assim por diante, até que o subsídio dos blocos (moedas novas) acabe e os mineradores apenas sejam remunerados através das taxas pagas pelos usuários da rede quando transacionam entre si.
Apenas os mineradores mais eficientes, que conseguem obter lucro mesmo com as recompensas decrescentes, sobreviverão. E quando os menores custos de energia possíveis forem atingidos e os hardwares de mineração melhorarem até o limite máximo, ainda haverá um argumento a favor da mineração ideológica – pessoas ao redor do mundo que não se importam muito com recompensas, mas apenas querem proteger a rede Bitcoin contra ataques.
O consumo de energia do Bitcoin é fácil de ser criticado porque é ainda mais fácil de ser calculado – a taxa de hash é uma métrica pública, e a eficiência das máquinas de mineração mais populares também é conhecida, então qualquer um pode fazer uma estimativa bastante precisa da quantidade de eletricidade sendo utilizada. Em comparação, nenhuma outra instituição financeira privada divulga esse tipo de dado. Você não verá bancos revelando quanta eletricidade seus escritórios e servidores consomem. Você não verá relatórios do Paypal ou da Venmo nos quais descobrirá quanto eles pagaram pela eletricidade necessária para executar suas operações (incluindo escritórios, softwares de atendimento ao consumidor, servidores e todo o resto). Até mesmo no caso dos governos, nem tudo é transparente – as forças armadas e os serviços secretos apenas publicam seus orçamentos totais, mas não explicam detalhadamente como eles o gastam ou por que precisavam de determinada quantidade de energia para algo que não produz resultados.
É por isso que precisamos comparar o consumo de eletricidade do Bitcoin com o de outras indústrias. De acordo com o Statista, entre fevereiro de 2017 e novembro de 2022, o Bitcoin atingiu um pico de 204,6 TWh por ano (alcançado no primeiro trimestre de 2022). Em 2021, o mundo inteiro consumiu 176.431 TWh. Mesmo no seu ápice, o Bitcoin correspondia apenas a 0,11% do consumo energético global. Isso é 100 vezes menos eletricidade do que o Fórum Econômico Mundial havia estimado que o Bitcoin utilizaria no ano de 2020 no seu artigo hilariamente horrível publicado em dezembro de 2017, cujo título era “Em 2020, o Bitcoin consumirá mais energia do que o mundo consome hoje”. As elites em Davos devem realmente odiar esse sistema monetário que não podem controlar.
Espero que o autor daquele artigo, Adam Jezard, esteja lendo isto, pois o crescimento na mineração não será constante e exponencial. No seu modelo, ele utilizou o crescimento mensal da taxa de hash de 25% como uma constante. Mas não é assim que funciona: pelas razões anteriormente descritas neste artigo, se você investir 25% mais energia na rede, você não receberá 25% mais recompensas. O algoritmo de ajuste de dificuldade tornará a mesma recompensa do bloco mais difícil de ser alcançada. Isso significa que muitos mineradores ao redor do mundo deixarão de ser lucrativos e encerrarão suas atividades. Portanto, no longo prazo, apenas aqueles que executam suas operações a partir das fontes mais baratas de energia permanecerão lucrativos e se manterão funcionando. O aumento dos custos expurga a ineficiência do mercado constantemente, e sempre há um incentivo para criar inovações no hardware que permitam que as máquinas gerem mais hashes por watt.
Além disso, 0,11% do consumo energético global é realmente insignificante se nosso intuito é permitir que indivíduos possam se libertar da tirania. 204,6 TWh por ano é apenas 1/10 da produção energética da Romênia em 2022, 19 TWh menos que a produção de energia anual do Quênia em 2021 e 1,65% da geração energética dos Estados Unidos em 2021.
Em dezembro de 2020, o colaborador da Forbes James Conca fez alguns cálculos para chegar à conclusão de que luzes de Natal nos EUA consomem 3,5 TWh durante o mês de dezembro. Vamos supor que o resto do mundo, durante festas como o Natal, o Hanucá e o Réveillon, atinja o dobro do consumo de eletricidade dos EUA. Isso equivaleria a 7 TWh globalmente no mês de dezembro. Em comparação, o Bitcoin consumiu 6,48 TWh no mesmo período (um número que representa o consumo anual estimado do Bitcoin por ano em dezembro de 2020 dividido por 12).
De acordo com o Índice de Consumo de Eletricidade do Bitcoin de Cambridge, no final de abril de 2023, a estimativa do consumo anual do bitcoin era de 129,94 TWh – significativamente menor que o pico apresentado no Statista. Se olharmos para outras indústrias, percebemos que o ouro consome 131 TWh por ano, enquanto TVs nos Estados Unidos consomem 60 TWh anualmente. O mais surpreendente é que geladeiras nos Estados Unidos consomem 104 TWh por ano… mas ninguém começa uma campanha para impedir que as pessoas comprem geladeiras e sejam obrigadas a consumir apenas alimentos frescos.
Os data centers que oferecem serviços de internet para pessoas ao redor do mundo não recebem ameaças de ter que pagar 30% a mais pela eletricidade consumida (como os mineradores dos EUA receberam). Ambas as indústrias oferecem algo que é objetivamente útil à humanidade, mas apenas uma delas é 100% controlável pelo Estado… e é a outra que é frequentemente ameaçada com regulações que dificultam seus negócios.
Existem inúmeros casos de “dois pesos, duas medidas” no julgamento da mineração de Bitcoin, o que é injusto. O ChatGPT contribui com esse FUD, mas devemos entender que o Bitcoin é útil e agrega valor à civilização humana. Engole essa derrota, sua IA defensora das elites!
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